Desde que cheguei a Farroupilha, me empenhei com ardorosa alegria no trabalho de valorização dos clubes de futebol e futsal da cidade. Minha missão tornou-se grata pela situação do projeto da Cortiana Esportes, que vai garantir para a SERC Brasil e para a AFF uma continuidade, aliada a resultados expressivos no cenário gaúcho e nacional. Assumi para mim a responsabilidade de ser um dos tantos elos entre as instituições e a comunidade. Cumpri esta missão até o limite de minhas resistências.
Foi simplesmente fascinante conhecer a história dos clubes, testemunhar suas alegrias recentes e projetar um futuro brilhante. Levarei para o resto dos meus dias convívios ímpares com algumas pessoas que jamais serão esquecidas, mais em função do que são, do que propriamente pelo que têm ou pelo que fazem. São essas pessoas que mantêm viva a chama, ainda que por vezes tímida, da paixão por instituições que representam a história de um povo, de uma cidade, de vidas que deixaram para a posteridade retratos de suas ações.
Já alguém falou em milênios passados que o “profeta” não é valorizado em sua terra natal. Como nem todas as generalizações devem ser aceitas para a formação de opiniões que não sirvam a interesses ou engodos, é preciso admitir que há algum reconhecimento para estas pessoas em Farroupilha. Porém, o contrário também é verdadeiro, talvez mais incisivo e certamente mais nocivo.
É preciso dizer que há pessoas que vivem pelo Brasil. Há pessoas que jamais irão abandonar o clube. Não é possível precisar o número. Cem, duzentas, quinhentas, talvez mil pessoas, que em seus corações sabem que merecem a glória das conquistas, ou pelo menos a recompensa que é destinada àqueles que amam e que, também por isso, sofrem. Aprendi a valorizar essa gente, a maioria humilde, trabalhadora, honesta, de fibra e caráter. Gostaria de citar todos os nomes que me ocorrem agora. Conheço os rostos daqueles que estão sempre no Estádio ou no Ginásio, mas não sei os nomes. Por isso, nomeio minha admiração, meu respeito eterno e minha reverência na pessoa do Sr. Nelson Barth (o Chico!).
Para mim, o Chico sempre será a representação ou a personificação mais fiel da comunidade farroupilhense. As virtudes dele são às dessa comunidade. Honestidade, humildade, companheirismo, amizade, trabalho, valor, respeito pelas tradições, pelos clubes da cidade, pelo esporte e pelas pessoas de Farroupilha. Eis um exemplo a ser seguido, um modelo pelo qual as pessoas de Farroupilha poderiam ser moldadas ou se deixar moldar. Quis Nossa Senhora de Caravaggio, padroeira da cidade e amiga do Chico, que quem comandasse os clubes em sua fase de maior esperança, pudesse ser uma pessoa que seguisse exatamente esse modelo e esse jeito de ser. As coisas não acontecem por acaso. Hoje, o Brasil e a AFF são comandadas por gente de bem, de caráter, comprometida e íntegra. Gente que erra, é claro, mas que tenta e acerta na maioria das vezes. O sucesso dos clubes será conseqüência natural daquilo que molda seus comandantes.
Mas a vida é um constante duelo de opostos. Não creio ser maniqueísta. Não me alio aos hipócritas nas taxações de bem e de mal, até porque “as épocas marcantes da minha vida são aquelas em que adquiro a coragem de considerar como o meu melhor aquilo que em mim há de mau”. Porém, a vida ensina que alguns valores transcendem dogmas ou pré-determinações. Sendo assim, considero ofensivo e terrivelmente prejudicial a idéia de algumas pessoas desta mesma valorosa comunidade. A grande questão é que idéias equivocadas costumam ser substituídas por ações estúpidas e medíocres, que decretam as dificuldades dos virtuosos.
Pessoas frustradas destroem os sonhos dos que já os conquistaram ou lutam por eles. Sendo assim, é com imensa e definitiva tristeza que me obrigo a citar aqui exemplos de gente que tem por objetivo apenas desfazer o que outros constroem. Pessoas da comunidade que criticam, atacam e desvalorizam aquilo que é seu. Julgo isso como estupidez, para dizer o mínimo.
Desconsidero a grandeza de gente que, por razões desconhecidas, empunha microfones para desestimular os torcedores da idéia de ir a um Estádio da cidade a fim de que se assista um jogo em outra localidade, sob o argumento de que o Brasil nunca ganhou títulos, que não tem continuidade ou de que será eternamente inferior a uma ou outra instituição. Repudio pessoas que expressam sua inferioridade com a violência física, ou mesmo moral, a ponto de atingir o nível do ridículo e até perder títulos de campeonatos esportivos por isso. Condeno pessoas que condenam àqueles que lutam pela própria realidade, pela própria terra, pelo próprio clube. Tenho náuseas ao ouvir grandes meios de comunicação e colegas renomados declarando o Brasil como “um timezinho de prefeitura”.
Não sou assim tão corajoso. Declaro minha fraqueza, talvez covardia, por não saber superar essas questões. Me sinto envergonhado, mas hoje caio vencido, cansado, humilhado e absolutamente derrotado. Porém, ao mesmo tempo, me sinto orgulhoso por ter tentado, por cair lutando e por ter a certeza de que vou continuar com esse sonho e de que verei os clubes de Farroupilha grandes, muito grandes. E o que mais me conforta, é que eu sei que não prejudiquei ninguém e que, se errei, foi por ter abusado da sinceridade e da transparência. Declaro-me vencido, mas não por estas pessoas. Declaro-me vencido por mim mesmo, pelas minhas convicções, pelos meus anseios de algo maior e pela minha necessidade de ter aquilo que sempre desejei.
Sendo assim, desisto desta ideologia por hora. Acato propostas irresistíveis de trabalho em outra praça e me despeço de Farroupilha. Me despeço dos grandes jogos da AFF e do Brasil. Me despeço da minha casa, da minha família e dos meus colegas, por não mais querer bater de frente com pessoas que são felizes com a simples possibilidade da ruína alheia.
Registro com grande felicidade a contribuição para o surgimento da Torcida Organizada do Brasil, constituída por iniciativa de abnegados jovens que serão a continuidade do clube. Registro também o esforço comum do colega Ricardo Ló, que em algumas décadas tem resistido àquilo que não suportei em um ano. Obrigado Ricardo, pelo companheirismo, pela perseverança e por ter sido o Oásis de pacificação nos desertos de intrigas.
Agradeço também ao Sr. Leandro Adamatti, gerente da Rádio Miriam AM, que contra tudo e contra todos, tem mantido em atividade o Departamento de Esportes da Emissora, mesmo não tendo respaldo e condições mínimas para tanto. Trata-se de uma pessoa admirável pelo seu caráter, honestidade e humanismo. Dentre tantos, um dos comandantes mais íntegros de emissoras que conheço.
Também agradeço ao dr. Hilário Sipp, pelo incentivo a mim e à minha família, pela amizade e pelo companheirismo em todos os momentos de nossa convivência profissional. Não há como não lembrar do Professor Fabiano Silva, um profissional na acepção da palavra, correto, batalhador e íntegro. Registro também agradecimentos especiais à dona Maria Gobatto e seu esposo. FIÉIS e LINDOS torcedores da AFF. Que exemplo!! Que força!! Quanto isso me motiva!!! É com lágrimas de alegria que cito essa gente querida.
Agradeço aos jogadores, comissão técnica, funcionários e dirigentes do Brasil, da AFF e da UFF, na pessoa do Luciano Dalpian, pelo profissionalismo e pela amizade que criamos ao longo de nossa convivência. Aprendemos a nos respeitar e trabalhar em parceria. Não há como citar aqui todos os nomes. Por isso, em geral, agradeço à vocês, amigos.
Gostaria também de prestar minha homenagem à pessoa que mandou determinantes e insistentes diários e-mails à Rádio Miriam criticando a mim por estar exagerando na torcida pelo Brasil nas Jornadas Esportivas. Agradeço-lhe pela acusação, que para mim é um elogio. Aproveito e pergunto: Não há, para quem torce contra o Brasil e a Rádio Miriam, programa melhor para um domingo à tarde do que ir ao estádio das Castanheiras e ouvir a Rádio Miriam? Sugiro a bocha, bom esporte para sedentários idosos!!!
Por último, e em especial, um agradecimento de um fã para a pessoa mais corajosa que conheço pessoalmente. Já ouvi falar de heróis. Meus pais são os meus. Mas Flávio Cortiana, definitivamente, é um herói. Não pelo que tem, muito menos pelo que representa, mas por manter seus investimentos em Farroupilha, podendo montar times campeões em qualquer outra cidade e por expressar em seus gestos as virtudes que considerei exemplos eternos quando fiz referência ao Chico, com o agravante de ter que superar as mais absurdas críticas e perseguições de que já tive conhecimento.
Não quero com esta declaração falar de mim. Não tenho e não quero ter representatividade, fama ou qualquer outra situação sequer parecida com isso. Odeio política. Quem me conhece sabe que o único defeito que sei que não tenho é a falsidade. Apenas estou, com estas palavras, justificando aos amigos minha saída e lançando meu último apelo público, em alto e bom som: Comunidade de Farroupilha, por favor, apóie nossos clubes. Vá ao Estádio das Castanheiras, lote o Saturnão, o Ginásio de Lourdes, os campos do interior no Farroupilhão, comemore nossos títulos, vibre com nossas vitórias, sofra e chore nas nossas derrotas, mas não perca sua identidade. Não valorize apenas o que é dos outros. VIDA ETERNA À SERC BRASIL, À UFF E À CORTIANA/UCS/AFF!!!!
Até Breve,
William Mota
PS.: Dane-se o Grenal de domingo. Meu lugar é nas Castanheiras!!!!!